segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO RECEBE INQUÉRITO SOBRE MORTE DE JUIZA


Promotor vai avaliar se oferece denúncia contra PMs presos.
Juíza foi morta a tiros em agosto; onze policiais estão presos pelo crime.

O Ministério Público já analisa parte do inquérito do caso do assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta em Niterói, Região Metropolitana do Rio no dia 11 de agosto, entregue pela Polícia Civil na sexta-feira (30).

De acordo com a assessoria do MP, com base no inquérito, os promotores decidirão se oferecem ou não à Justiça denúncia contra os policiais militares acusados do crime.

Onze PMs são suspeitos de envolvimento no crime e já estão presos, entre eles o ex-comandante do batalhão de São Gonçalo, Cláudio Oliveira, suspeito de ser o mentor do crime. Todos os policiais foram indiciados por homicídio. No entanto, de acordo com a assessoria do MP, ainda falta a Polícia Civil entregar outra parte do inquérito do caso, que estaria marcada para a terça-feira (4).

O ex-comandante afirma ser inocente.

Dos onze policias militares presos, oito permanecem no presídio de seguranca máxima Bangu 1. O motivo da transferência deles do Batalhão Prisional, em Benfica, ficou mais claro depois que a polícia fez um monitoramento de telefones feito com autorização da Justiça.

Segundo os investigadores, o tenente Daniel Benitez Lopes, usava um celular dentro da cela do batalhão. Escutas telefônicas mostraram que parentes de um dos PMs presos ajudaram a esconder provas do crime.

"A gente já tava tirando as coisas. Já estava sabendo, (por)que ontem foram na casa de um deles e acharam muita munição da mesma arma que matou a mulher", afirmou a irmã de um policial.

"Tiraram a munição e a arma que tava lá?" - perguntou o policial.

"Não, não tinha. Lá em casa, não tinha nada. Tinha arma nenhuma. Não tinha nada, tinha tirado tudo. A última coisa nós tiramos ontem", explicou.

PMs foram ao condomínio de Patrícia no dia do crime

Imagens exclusivas obtidas pelo Fantástico mostram que policiais suspeitos de participar do assassinato da juíza Patrícia Acioli passaram pelo condomínio onde ela morava e estudaram as rotas de entrada e saída que usariam poucas horas depois.

As imagens inéditas, gravadas no dia em que Patrícia foi morta, mostram um homem caminhando na ponte de acesso ao condomínio onde a juíza será assassinada à noite. É o tenente Daniel Benitez, do Batalhão da Polícia Militar de São Gonçalo, que tem a cobertura do cabo Sérgio Costa Júnior, também do 7º batalhão. Sete horas depois, são os dois que dispararam 21 tiros contra a juíza, segundo as investigações.

Delação premiada
A polícia chegou a essas imagens depois que o cabo da PM que estava na garupa da moto e foi um dos autores dos disparos que mataram a juíza fez um acordo de delação premiada. Ele contou detalhes do crime em troca da redução da pena.

Pouco depois das 23h, a juíza deixou sua sala no Fórum de São Gonçalo e dirigiu 29 km sem perceber que estava sendo seguida pela moto de Benitez e Sérgio. Um carro também estava no fórum, vigiando a saída da juíza.

No carro, estava o cabo Jovanis Falcão Júnior.

Em entrevista exclusiva ao Fantástico, o policial Sérgio revelou que todos os detalhes foram checados naquele dia porque, sem saber do perigo que corria, a juíza já havia escapado de duas emboscadas naquela semana. "Porque ela tinha cancelado uma reconstituição", contou o cabo. "(A outra tentativa) eu não me recordo, mas ela tinha saído mais cedo, dentro da mesma semana."

Cabo teme por família
Sérgio contou que a mulher dele não sabia da sua participação no crime. "Só ficou sabendo no fórum, quando eu fui fazer o acordo (da delação premiada). Temo (pela segurança dela e da minha filha), porque saiu nos jornais que foi por causa do meu depoimento que o coronel foi preso. Na verdade eu não citei o nome do coronel. Quem falou o nome do coronel foi o tenente Benitez (o condutor da moto)."

Outro cabo, Jeferson Miranda, que também fez acordo de delação premiada, disse em depoimento que ouviu do tenente que o coronel sabia do desejo dele de matar a juíza. E ainda teria dito ao tenente: "Você me faria um grande favor".

Indagado sobre quando foi a primeira vez que ouviu falar sobre assassinar a juíza Patrícia Acioli, o cabo conta: "Em abril ou maio ele (o tenente) trouxe a ideia para dentro da equipe do GAT".

Um outro policial militar preso informou em depoimento na quinta-feira (29), que levou o grupo de policiais à rua onde a juíza morava e mostrou a casa dela, porque eles alegaram que queriam aprofundar as investigações sobre uma briga ocorrida meses antes no local entre a juíza e seu companheiro.

Tenente Benitez preso
Logo depois do assassinato da juíza, o tenente, os dois cabos e cinco policiais foram presos pela morte de um jovem em São Gonçalo. A prisão tinha sido determinada pela própria Patrícia Acioli minutos antes de morrer.

De dentro da prisão militar, o tenente fazia ligações, que a polícia estava gravando com autorização da Justiça.

Em uma das ligações, o tenente perguntava: "Sabe se alguém do batalhão vem me visitar aqui nesse final de semana, para eu organizar aqui as visitas?"

"O '01' falou que vai aí, cara, amanhã ou depois. E pediu pra que os oficiais fossem também para poder dar um apoio moral a vocês, entendeu?", diz a pessoa na linha.

"Sempre bom receber os amigos. Tranquilo", diz o tenente. '01' era o coronel Cláudio.

O cabo confirmou a visita do coronel à prisão. "Ele fez uma reunião com todos, dando a palavra de conforto e que isso ia passar. Depois que todos saíram, só ficou o tenente conversando com eles, não sei quanto tempo", contou.

'Mais umas feriazinhas', diz tenente sobre prisão
No Batalhão Especial Prisional, a cadeia da PM, o tenente não se sentia preso, como mostra uma conversa com a mãe.

"Corre o risco de vocês fugirem daí? Como é que você sai daí, meu filho?", pergunta a mãe do tenente ao telefone.

"Pô, mãe, isso aqui é a coisa mais fácil de fugir que tem no mundo, é que ninguém quer. Daqui a pouco eu devo estar saindo. Mais umas feriazinhas", respondeu.

Férias com festa, cerveja: "Arruma uma bolsa de viagem aí, vê se consegue trazer umas seis ou oito caixas. Pode ser latão, tanto faz, qualquer coisa", pede o tenente a uma pessoa no telefone.

"Você quer seis a oito caixas? Como é que eu vou botar isso numa bolsa de viagem, filho?", pergunta.

"Ah, bota o que der, bota o que der. Bota duas garrafas de vodca também", responde o tenente.

Escolta policial
Naquela noite a juíza saiu sozinha do fórum. Sozinha fez todo o percurso, e sozinha estava quando caiu na emboscada em frente à casa dela. Como uma mulher que tinha mandado mais de 60 policiais para a cadeia e estava ameaçada de morte, estava sem escolta? Depoimentos e documentos reunidos pela polícia começam a esclarecer também essa questão.

Em janeiro, o coronel Cláudio transferiu os últimos dois policiais que faziam a escolta da juíza. Um deles, o cabo Poubel, namorado de Patrícia Acioli. No boletim interno da Polícia Militar, uma observação: os dois só poderiam sair dos novos postos com autorização do comandante-geral da PM.

O coronel Mário Sergio Duarte pediu demissão depois que o coronel Cláudio foi preso.

O coronel Mário Sérgio, que está se recuperando de uma cirurgia, disse por telefone que a responsabilidade pela segurança de magistrados é do Tribunal de Justiça. E que é o tribunal que escala PMs, cedidos por convênio. No caso dos dois seguranças da juíza, o coronel disse que eles foram transferidos de volta para a rua junto com outros PMs que estavam fazendo segurança de autoridades sem estarem formalizados por convênio.

Sobre o fato de que a transferência desses dois praças só poderia ser feita com autorizaçõ experessa dele, o coronel disse que isso era uma forma de protegê-los, para eles não serem transferidos para o interior do estado.


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