segunda-feira, 27 de junho de 2011

Obra até durante a madrugada tira o sono de cariocas

Para acelerar reforma do Maracanã, britadeiras e bate-estacas não dão trégua. Construção em São Conrado também incomoda

POR FELIPE FREIRE

Rio - Na garupa do progresso, os transtornos vêm a galope. Pelo menos para moradores do Maracanã e São Conrado, onde são realizadas, respectivamente, a reforma do Estádio Jornalista Mário Filho e a construção de uma das seis estações da Linha 4 do Metrô, que ligará a Barra da Tijuca a Ipanema.

Segundo eles, as obras, inseridas no pacote de intervenções para futuros eventos internacionais no Rio, estão sendo “aceleradas” e ultrapassando horários pertinentes para a sinfonia orquestrada por máquinas barulhentas.

Há pouco mais de duas semanas, a madrugada passou a fazer parte dos turnos das obras do Maracanã. O músico Maurício Sahadi, 47, que mora na Rua Professor Eurico Rabelo, em frente à Torre de Vidro, já pensou até em chamar a polícia ou entrar na Justiça para conseguir tocar sua guitarra — que está desligada, na varanda — ou simplesmente assistir suas séries favoritas na televisão. “Nem por volta das 2 horas consigo assistir TV por conta das britadeiras. O som infernal vai até umas 5 horas”, conta.

Casado e pai de uma criança de 8 anos, o morador da Zona Norte garante que o ritmo das intervenções atrapalha o dia a dia da família. “Não tenho culpa se eles estão atrasados. Minha mulher e meu filho acabam dormindo mal com o ruído”.

Palco de clássicos históricos e shows memoráveis, o estádio deixou de ser, por enquanto, reduto das alegrias do flamenguista José Luis Figueiredo, 40, que mora na Rua Artur Menezes. “Somos loucos por futebol e apoiamos a reforma, mas o barulho de madrugada é ensurdecedor”.

Mulher do administrador, a médica Bianca faz o que pode para impedir que o som atrapalhe o filho, de 4 anos. “Estamos dormindo com tudo trancado. Imagina no verão? Mas não tem jeito, tem vezes que ele acorda e pergunta que barulho é aquele”.

Horário de trabalho vai ser reduzido em quatro horas


As intervenções na Estrada da Gávea, em São Conrado, não chegam a varar a madrugada, mas o barulho também incomoda. As obras vão tornar realidade o tão sonhado transporte subterrâneo entre as zonas Sul e Oeste irá facilitar a locomoção de turistas, por exemplo, durante as Olimpíadas de 2016.

Mas de acordo com moradores, os trabalhos começam por volta das 7h e vão até as 22h, incluindo nos sábados. Além disso, a iluminação da obra incomoda à noite e o desmatamento da área teria ocorrido de forma excessiva.

“Não sou contra o progresso, mas trabalho em casa e não posso sequer falar ao telefone na varanda”, reclama o empresário do ramo imobiliário Norbert Hartmer, 62. “Hoje não ouço mais araras e passarinhos na mata”.

A Secretaria Estadual de Transportes informou que, mesmo com a licença, os horários de trabalho já teriam sido fixados entre 8h e 19h. Em relação à iluminação, alega que ajustes foram feitos e destaca que toda a área será reflorestada ao fim das obras.

Máquinas pesadas serão usadas só de dia, diz Emop

Presidente da Empresa de Obras Públicas (Emop), Ícaro Moreno prometeu substituir as operações com máquinas pesadas na madrugada por serviços de alvenaria e concretagem. Medições de decibéis rotineiras no entorno do estádio também passarão a ser realizadas.

Para adequar o Maracanã às exigências da Fifa para a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014, a obra começou em agosto de 2010. Orçado em mais de R$ 600 milhões e podendo chegar a até R$ 1 bilhão, o projeto abrange a reconfiguração dos anéis, construção de novas rampas, ampliação da cobertura e redução das dimensões do campo.

O prazo é de, no máximo, 900 dias, com entrega prevista para o final de 2012.

Varanda teve de ser abandonada em São Conrado. Criança estuda no banheiro

Com apenas 6 meses, o pequeno Pedro ainda não pôde desfrutar plenamente do aconchego de seu quarto. Isto porque, segundo a mãe, Alessandra Carlos, 38, o berço da criança fica bem embaixo da janela. “Improvisamos um berço no nosso quarto, que é acusticamente protegido por um armário”.

Mas não são apenas os mais novinhos que sofrem com as intervenções em São Conrado.
“Outro dia, nossa filha teve de estudar no banheiro, de porta fechada. Aliás a casa toda fica assim o dia inteiro: trancada”, contou Alexandre Ângelo, 44, pai de duas meninas e de Pedro, que vem apresentando problemas respiratórios por conta da poeira oriunda da obra.

“Não usamos mais a varanda. Acho que eles poderiam pelo menos pagar o isolamento acústico do apartamento”, completou Alessandra. A previsão de entrega das obras de todo o trecho da Linha 4 é para dezembro de 2015.

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